Epílogo – O Jardim de Inverno

Anos se passaram desde a noite em que o amor encontrou seu lugar sob o lustre central da mansão Sgarden. O tempo, com sua dança sutil, não apagou os momentos — apenas os vestiu de saudade. E ali, entre memórias preservadas e novos começos, floresceu um lar.

A antiga estufa da mansão dos Skills foi restaurada por Maria Antonieta e Willys, transformando-se em um refúgio vivo. Agora chamada de Estufa Valmont, abria suas portas ao público duas vezes por semana — um espaço onde flores raras, poesia e silêncio conviviam em harmonia. Crianças sentavam-se ao redor de bancos de madeira para ouvir histórias, jovens amantes deixavam cartas entre as pedras do jardim, e velhos visitantes diziam que ali o tempo andava mais devagar.

Willys cultivava as camélias com a mesma ternura que um dia guardou seu segredo. Maria Antonieta escrevia, às vezes em prosa, às vezes em versos — crônicas leves sobre as estações, o amor e as coisas que só se entendem quando se aprende a escutar o silêncio.

No quarto ao lado da estufa, um berço repousava entre véus de linho branco. Nele, dormia Clara Antonieta Valmont — a filha que herdara os olhos do pai e o espírito observador da mãe. Era para ela que Willys escrevia agora:

“Que você cresça entre flores e verdades. Que saiba amar com coragem. E que, quando o mundo parecer frio, se lembre: seus pais encontraram abrigo um no outro. E você foi a flor que nasceu desse amor.”

Mariana voltou à Provença e abriu um ateliê de pintura. Suas telas, todas assinadas com um simples “Clarisse”, ganhavam notoriedade pela sensibilidade com que retratava paisagens e silêncios. Sara casou-se com aquele estranho dos olhos misteriosos da noite do Réveillon. Dizem que até hoje se correspondem por cartas, mesmo morando sob o mesmo teto.

William Stone visitava os Valmonts nas tardes de domingo. Trocava livros com Antonieta, cuidava da pequena Clara com a leveza de quem reencontrou a si mesmo, e chamava Willys de irmão — não com a formalidade do passado, mas com a intimidade de quem, enfim, perdoou o tempo perdido.

Débora, por sua vez, tornou-se uma memória nobre. Mandava postais de lugares distantes, quase sempre assinando com uma única linha:

“Ainda escrevo, mesmo sem papel.”

E quanto à estufa?

Bem… dizem que, em noites de vento suave, quando as flores se inclinam como que prestando reverência ao amor, é possível ouvir uma risada feminina e a voz grave de um homem sussurrando versos esquecidos.

Ali, onde tudo começou, onde o silêncio floresceu, o amor permanece. Discreto, profundo, eterno.

Como deve ser.

Fim.