Capítulo 04 – O mistério só aumenta

Os comentários de Sara haviam plantado uma dúvida inquietante na mente de Maria Antonieta.

Afinal, o que realmente se passava no casamento de sua tia Débora?

Sempre a vira como uma mulher elegante e sofisticada, mas agora, ao olhar com mais atenção, percebeu algo diferente.

Débora era jovem, cheia de vida… e o tio Sgarden, tão sério e reservado, parecia viver em outro mundo.

E então, como uma sombra persistente, a lembrança daquela noite no jantar voltou com força.

Os três beijinhos.

O olhar familiar do rapaz misterioso.

A pressa dele em ir embora.

Seria apenas coincidência? Ou havia algo muito maior por trás de tudo isso?

Os dias passaram, mas a inquietação de Maria Antonieta só aumentava.

Ela notou que Sara estava cada vez mais atenta a tia Débora. Parecia observá-la discretamente, como se estivesse tentando desvendar um mistério.

E, de fato, havia algo diferente no comportamento de Débora.

De vez em quando, ela dava umas “escapadas” discretas. Sumia por alguns minutos durante os passeios, demorava mais do que o normal para retornar dos compromissos, e às vezes, até parecia perdida em pensamentos distantes.

Maria Antonieta e Sara trocaram olhares cúmplices.

Não estavam apenas imaginando coisas.

Algo estava acontecendo.

E talvez estivesse ligado ao maior mistério que Maria Antonieta precisava resolver…

Sem muita escolha e ainda intrigada com os últimos acontecimentos, Maria Antonieta aceitou o convite de Sara.

As duas se arrumaram rapidamente e saíram para a galeria de arte moderna, um lugar que Sara sempre quis visitar.

— Vai ser divertido, Antonieta! — disse Sara, animada. — Além disso, precisamos distrair um pouco nossas mentes, não acha?

Maria Antonieta sorriu, mas no fundo sabia que sua mente estava longe de se distrair.

O que ela não imaginava era que aquela visita à galeria traria revelações inesperadas…

Estavam as duas primas encantadas com as obras de arte, cada uma mergulhada em sua própria admiração pelas formas e cores vibrantes que preenchiam o salão da galeria.

Sara comentava animadamente sobre um quadro abstrato, enquanto Maria Antonieta se deixava envolver pela atmosfera artística do lugar.
Após alguns minutos Sara falou para Maria Antonieta que iria no toalete e caso as duas não se encontrassem ela esperaria lá na lanchonete… na ida ela ouviu uma voz muito conhecida, era a vóz da sua tia, ela tinha certeza… quando ela olhou na direção da conversa, Débora estava de costas para ela, quando um rapaz a abraçou e a beijou de uma forma muito caliente…
Maria Antonieta ficou paralisada.

O choque percorreu seu corpo como um raio. Ela tinha certeza de que aquela era sua tia Débora. E aquele abraço… aquele beijo…

Não era um simples cumprimento.

Seu coração disparou. Quem era aquele homem?

Sem pensar, deu um passo à frente, tentando ver melhor. Mas no exato momento em que ia se aproximar, Débora e o homem se afastaram lentamente, e ela não conseguiu ver seu rosto…

Mas… quem era ele?

Seu coração disparou. Seria Willys? A altura, o porte físico, algo na maneira como ele segurava Débora… tudo parecia muito familiar.

Em choque, ela saiu apressada, procurando por Sara. Quando a encontrou, Sara a surpreendeu com uma revelação:

— Antonieta, você não vai acreditar no que acabei de ver… — disse Sara, ainda ofegante. — Tia Débora estava beijando um homem!

Maria Antonieta arregalou os olhos.

— Eu vi! — sussurrou, sentindo o coração na garganta. — E eu… eu acho que era Willys.

Sara franziu a testa.

— Willys?! Tem certeza?

Maria Antonieta hesitou.

— Eu… eu não sei. Parecia, mas a penumbra da galeria não a deixou ter certeza absoluta.

E se estivesse enganada?

E se Willys não tivesse nada a ver com isso?

O que importava agora era que Débora escondia algo.

E esse não seria o único segredo dela…

 

Capitulo – O Inesperado

Os dias em Paris seguiam com sua atmosfera encantadora, mas na mente de Maria Antonieta, a tranquilidade era apenas aparente. As imagens confusas, as dúvidas e agora… os gestos enigmáticos de sua tia Débora, aos poucos, começavam a se acumular como peças de um quebra-cabeça ainda sem sentido.

Certa tarde, após o almoço, Antonieta foi até a biblioteca da casa para procurar um livro que sua tia havia recomendado dias antes. Ao abri-lo, um bilhete caiu de dentro, deslizando delicadamente até o chão. Antonieta o pegou, e seu coração acelerou ao ler:

“Nosso encontro de ontem foi inesquecível. Mal posso esperar pelo próximo. – J.”

Sem assinatura. Apenas uma inicial. Mas a caligrafia era elegante e firme. Um homem, talvez? Um novo mistério nas mãos.

Mais tarde, naquela mesma semana, Antonieta e Sara decidiram ir até um charmoso café parisiense no bairro de Saint-Germain. Enquanto esperavam seus cafés, avistaram Débora sentada próxima à janela, aparentemente só. Porém, pouco depois, um homem elegante, de terno cinza e postura refinada, aproximou-se dela.

As primas se entreolharam com surpresa.

Débora pareceu pega de surpresa, mas seus olhos brilharam com uma familiaridade difícil de ignorar. O homem se inclinou, sussurrou algo em seu ouvido e os dois sorriram. Ele a cumprimentou com um beijo na mão e partiu rapidamente, quase sem ser notado.

– Você viu isso? – sussurrou Sara, arregalando os olhos.
– Vi… mas não sei o que pensar. – respondeu Antonieta, ainda tentando processar.

Naquela noite, ao voltarem para casa, Antonieta foi até o quarto da tia para conversar sobre outro assunto trivial. Mas algo chamou sua atenção: um perfume diferente no ar. Era envolvente, marcante e não era o que Débora costumava usar.

– Que perfume é esse, tia? – perguntou com naturalidade.
– Ah… um novo, presente de uma amiga – respondeu Débora, desviando o olhar e rapidamente mudando de assunto.

Antonieta saiu do quarto com a sensação de que havia mais escondido atrás dos sorrisos doces de sua tia do que jamais poderia imaginar.

Cena seguinte – “O Encontro no Café de Saint-Laurent”

No dia seguinte à inesperada cena na galeria, Antonieta e Sara seguiram sua rotina parisiense com certa discrição. Evitavam comentários sobre o ocorrido, mas bastava um olhar trocado entre as duas para saberem que o assunto ainda pulsava forte.

Antonieta sugeriu um passeio tranquilo no fim da tarde, e Sara, com um leve sorriso, aceitou. Caminharam pelas margens do Sena, onde os tons dourados do pôr do sol desenhavam reflexos nas águas. Ao passar por uma charmosa viela entre as livrarias antigas do Quartier Latin, Sara avistou uma figura familiar entrando no Café de Saint-Laurent, um discreto e requintado bistrô frequentado por intelectuais  e artistas locais.

“É ela…”, sussurrou Sara, com a mão sutilmente tocando o braço de Antonieta.
— “Tia Débora?”, perguntou Antonieta, virando-se devagar, fingindo distração com a vitrine de uma loja de porcelanas.

De fato, Débora estava ali. Usava um vestido azul-marinho elegante e um chapéu que escondia parcialmente o rosto. Sentou-se em uma mesa do canto, longe dos olhares. Poucos minutos depois, um homem se aproximou. Jovem, distinto, com feições suaves e um leve ar estrangeiro. Não era Willys. Era outro. Totalmente diferente.

Ele a cumprimentou com um beijo na mão e puxou a cadeira para sentar-se. A conversa parecia envolvente, as expressões eram intensas, e um brilho peculiar surgia nos olhos da tia.

Antonieta e Sara sentaram-se numa mesa do lado de fora, longe o bastante para não serem notadas, mas próximas o suficiente para observar. Não podiam ouvir, mas os gestos e olhares falavam por si.

— “Mais um?” — murmurou Sara, com um tom misto de espanto e curiosidade.
— “Isso está ficando cada vez mais estranho…” — respondeu Antonieta, com o coração acelerado.

Não era ciúmes. Não era julgamento. Era confusão. A imagem doce e serena da tia Débora começava a adquirir outras nuances, como uma pintura que, vista de perto, revela camadas ocultas.


Cena: “O Bilhete”

O encontro entre Débora e o desconhecido foi breve. Antonieta e Sara observavam discretamente, cada gesto da tia sendo registrado com olhos atentos.

Após uma breve conversa, Débora tirou de sua bolsa um pequeno envelope branco. Disfarçadamente, passou-o para o homem enquanto sorria com elegância. A atitude foi natural, mas suas mãos revelavam uma leve tensão — algo que não passou despercebido aos olhos de Antonieta.

O homem olhou para o envelope, pareceu surpreso, talvez até confuso, mas não disse nada. Apenas assentiu, guardando o bilhete no bolso do paletó. Logo após, se levantou, fez uma reverência respeitosa, e se despediu com um leve toque na mão de Débora.

Ela ficou ali, sozinha por alguns segundos, como se refletisse sobre algo, antes de também se levantar e sair pela rua oposta, sem sequer notar as sobrinhas que, de forma impecavelmente discreta, desviaram o olhar.

Sara quebrou o silêncio:
— “Você viu o bilhete?”
— “Vi sim. E não sei o que pensar…” — respondeu Antonieta, inquieta.

Na noite anterior ao leilão, Antonieta e Sara estavam no quarto, sentadas próximas à janela, observando o movimento suave das luzes de Paris.

— “Aquela cena na galeria ainda me inquieta…”, comentou Antonieta, com os olhos perdidos no horizonte. “O modo como ela entregou aquele bilhete… foi tão discreto… quase clandestino.”

— “Parecia um encontro antigo, como se já tivessem uma rotina daquilo.” — disse Sara, pensativa.

Antonieta virou-se para a prima com uma expressão carregada de dúvidas, mas também de coragem para dar voz ao que vinha remoendo por dentro.

— “E se aquele bilhete… não fosse pra ele exatamente?”, começou, hesitante. “E se ele fosse apenas o portador? Talvez… ela não pudesse entregar pessoalmente. Talvez fosse pra alguém que ela não tem mais acesso… alguém como…”

Houve uma pausa. Sara fitava Antonieta com atenção crescente.

— “…alguém como o Willys…” — Antonieta deixou escapar num sussurro carregado de emoção — “…ou sei lá… alguém como Stone?”

O nome saiu como um sopro de dúvida, como se não quisesse se concretizar em realidade. Sara arregalou levemente os olhos, surpresa. O nome “Stone” ainda não havia sido mencionado antes por Antonieta. Seu coração disparou.

— “Stone?”, repetiu Sara, cuidadosamente. “Você… você chegou a ouvir esse nome antes?”

Antonieta percebeu a reação inesperada.
— “Não sei… é como se minha mente tivesse juntado peças soltas. Algo naquele rosto naquela noite… o jeito como olhou… parecia com Willys, mas havia algo diferente também. Talvez nem faça sentido o que eu estou dizendo.”

Sara permaneceu em silêncio por alguns instantes, olhando para o chão. Quando levantou os olhos, havia uma inquietação em seu olhar.
— “Talvez faça mais sentido do que imaginamos…”

As duas permaneceram ali, com o nome ecoando entre elas, carregado de possibilidades e promessas não ditas. Um bilhete. Um beijo. Um nome. Tudo começava a se embaralhar perigosamente no coração de Antonieta.


Cena: “O Leilão e o Beijo”

Os dias seguintes foram marcados por uma vigilância discreta, mas persistente. Antonieta e Sara estavam decididas a entender os passos de Débora. A tia, com sua graciosidade habitual, seguia sua rotina sem aparentes desvios — até aquela tarde ensolarada de sexta-feira.

— “Tia Débora vai a um leilão beneficente hoje. Vi o convite sobre a mesa do escritório”, disse Sara, com os olhos brilhando de expectativa.

Antonieta assentiu com um leve sorriso enigmático.
— “Então vamos ao leilão… discretamente.”

**

A noite estava fresca em Paris, com um leve vento soprando folhas secas pelas calçadas. Sara e Antonieta chegaram pontualmente ao evento — um leilão beneficente realizado em um palacete antigo no coração da cidade.

O lugar exalava sofisticação e segredos. O salão principal era decorado com candelabros de cristal e quadros clássicos que se misturavam a obras modernas. As pessoas circulavam com taças de champanhe, vestidos de gala e conversas discretas.

Antonieta mantinha os olhos atentos em cada detalhe, mas principalmente em sua tia Débora, que logo se destacou no ambiente — como sempre, deslumbrante, cativante, e perfeitamente à vontade entre os convidados.

— “Ela está ainda mais radiante hoje…”, sussurrou Sara, observando-a à distância.

Débora caminhava com naturalidade, parando para cumprimentar algumas pessoas influentes e se encantando com uma escultura em mármore que seria leiloada em instantes.

Em determinado momento, ela se afastou discretamente para os fundos do salão, onde havia um pequeno jardim iluminado por lanternas pendentes. Antonieta tocou levemente o braço de Sara.

— “Vamos.”

As duas seguiram a distância, tentando parecer despretensiosas.

Débora parou ao lado de um carro preto estacionado discretamente em uma das extremidades do jardim. Alguém já a aguardava no banco do motorista, mas por causa da escuridão e do reflexo no vidro, não era possível distinguir o rosto.

Antonieta segurou o fôlego.

Débora abaixou-se levemente e trocou algumas palavras com a pessoa dentro do carro. Em seguida, inclinou-se pela janela e recebeu um beijo… não no rosto, mas nos lábios — um gesto breve, porém intenso, revelador.

O carro partiu devagar, com os faróis apagados. Nenhuma placa visível. Nenhuma confirmação. Só o silêncio cúmplice da noite.

— “Não conseguimos ver quem era”, disse Sara com frustração contida. “Mas aquele beijo…”

— “Não era um beijo qualquer…”, completou Antonieta, ainda paralisada.

As duas permaneceram ali, no jardim, com o frio da noite acariciando a pele e o calor da dúvida queimando por dentro.

O mistério não apenas crescia… agora ele parecia estar jogando com elas.


Cena: “O Retorno de Débora”

Após o enigmático encontro no jardim do leilão, Débora voltou ao salão como se nada tivesse acontecido. Seu rosto estava sereno, o sorriso ainda no lugar — a imagem impecável de uma dama da alta sociedade.

Cumprimentou algumas pessoas no caminho, trocou palavras gentis com um senhor de cabelos grisalhos e ainda conseguiu fazer uma pequena doação antes de se despedir do anfitrião da noite.

Sara e Antonieta, ainda atônitas com o que haviam presenciado, decidiram retornar logo depois. O caminho de volta à mansão foi feito em silêncio, apenas os faróis cortando a escuridão da noite parisiense.

Ao chegarem, foram surpreendidas pela cena mais cotidiana possível: Débora já estava sentada na sala, servindo chá, como se tivesse acabado de chegar de um passeio casual.

— “Ah, meninas! Já voltaram?”, disse ela com doçura. “A noite estava encantadora, não acham?”

O Senhor Sgarden estava ao seu lado, lendo tranquilamente o jornal do dia, enquanto os pais de Antonieta comentavam sobre o jantar preparado pela governanta da casa.

Nenhum traço de inquietação. Nenhum indício de que algo fora do comum tivesse acontecido.

Antonieta trocou um olhar rápido com Sara. Na expressão de sua prima, o mesmo pensamento:

Como alguém podia esconder tanto atrás de um sorriso tão doce?

Débora ofereceu chá às sobrinhas e puxou conversa como se o dia tivesse corrido normalmente.

A fachada perfeita de uma dama de classe… Mas os olhos de Antonieta já haviam aprendido a enxergar além da superfície.


VEJA O QUINTO CAPÍTULO DO ROMANCE…