Capítulo 12 – Revelação – Está chegando a hora….
O Poema no Jardim
A tarde caía com doçura, tingindo o céu de tons dourados e rosados. Willys havia parado o carro sob a sombra de uma árvore antiga, como quem desejava prolongar aquele instante de silêncio, onde as palavras pareciam suspensas entre eles.
Antonieta segurava algo entre os dedos — um papel dobrado, cuidadosamente preservado. O mesmo que encontrara entre as pedras do jardim, próximo ao banco onde, dias antes, ele estivera sozinho, perdido em pensamentos.
Ela olhou para ele com suavidade, como quem segura um segredo precioso. Então, sem dizer nada, estendeu o papel.
— Reconhece essa letra? — perguntou com a voz serena.
Willys arregalou os olhos ao ver o papel. O coração bateu mais forte. Era aquele poema. Aquele que ele havia escrito num momento de vulnerabilidade, quando o peso das emoções se tornava insuportável.
— Onde… onde encontrou isso? — perguntou, tentando manter a compostura.
— Estava no jardim. Como se tivesse sido deixado ao acaso… mas eu não acredito em acasos, Willys.
Ela abriu o papel lentamente e começou a ler em voz baixa:
“Se eu pudesse dizer teu nome,
as flores do jardim se curvariam,
como quem reverencia um amor secreto
escondido na sombra de uma esperança antiga.”*
“Mas te calo.
Te escrevo no silêncio.
Te guardo onde ninguém mais vê.
E mesmo assim,
estás em tudo que sou quando o mundo adormece.”
O silêncio que se seguiu foi profundo. Willys desviou o olhar para o horizonte, os olhos marejando, mas sem deixar cair uma lágrima.
— Era só um desabafo… — murmurou ele, como quem tentava se proteger.
Antonieta dobrou o papel com delicadeza, como quem fecha um segredo entre os dedos, e disse:
— Talvez tenha sido… mas as palavras encontraram quem precisava ouvi-las.
Willys a olhou, enfim. Havia ternura no olhar dele, mas também medo. Como se estivesse diante de um precipício: um passo à frente e toda a verdade seria revelada.
Antonieta sorriu de leve, mas não insistiu. Guardou o poema consigo e apenas disse:
— Não precisa dizer nada agora. Mas saiba… eu reconheceria a sua alma mesmo se ela se escondesse no papel mais discreto.
E então, com a serenidade de quem entende o tempo do outro, ela abriu a porta e caminhou para dentro da casa. Willys ficou ali, ainda com o som da voz dela ecoando no peito — e com a certeza de que, aos poucos, seu silêncio estava sendo vencido por alguém que não exigia, apenas sentia.
O Beijo na Curva do Instante
A noite estava úmida, perfumada por uma chuva que havia cessado há pouco. Antonieta e Willys caminhavam lado a lado, guiados apenas pela luz trêmula de uma lanterna que ele segurava. O destino? Um antigo abrigo de vidro nos fundos da propriedade — fechado há anos, mas que agora poderia guardar pistas sobre antigos arquivos da família.
— Cuidado, o chão está escorregadio… — disse ele, num tom protetor.
Antonieta assentiu com um sorriso, mas seu salto deslizou suavemente ao pisar numa tábua molhada. O mundo girou por um segundo — mas antes que seu corpo tocasse o chão, os braços dele a envolveram num gesto firme, urgente, protetor.
Ela ficou ali, entre seus braços, o coração disparado. O rosto tão perto do dele que podia sentir o calor de sua respiração. O susto havia se dissipado, mas não o calor que agora crescia entre eles.
— Está bem? — perguntou ele, com os olhos mergulhados nos dela.
— Estou… agora estou. — sussurrou ela, com um leve tremor na voz.
Houve um segundo de silêncio. Um instante em que tudo parou: o tempo, os medos, as dúvidas. A emoção apertou o peito de Antonieta como um segredo impossível de guardar.
Então, num impulso de alma, ela o beijou.
Um beijo breve, carregado de surpresa, gratidão, e algo mais profundo — algo que ela mesma ainda não conseguia nomear. Mas que seu coração já sabia de cor.
Willys não recuou. Os olhos dele se fecharam por um momento, como se quisesse guardar aquilo para sempre. Mas quando o beijo cessou, ele ainda a segurava com força — não por medo de que ela caísse, mas por não querer soltá-la jamais.
— Desculpe… — disse ela, com as bochechas coradas.
— Não peça desculpas… — respondeu ele, em voz baixa. — Algumas coisas não precisam de permissão. Apenas… acontecem.
Eles seguiram juntos, em silêncio, mas agora havia uma ponte invisível entre seus corações, feita de palavras não ditas e sentimentos que, finalmente, começavam a encontrar caminho.
Epílogo do Instante
Sem palavras, eles continuaram lado a lado, a respiração ainda entrelaçada. Os passos voltaram a soar na madeira molhada, mas agora cada som parecia parte de uma nova melodia que só os dois conseguiam ouvir.
Antonieta segurava com mais firmeza a lanterna em sua mão trêmula, mas era o calor da mão dele ainda em sua cintura que a mantinha firme. Nada foi dito. Nada precisava ser dito.
Ali, entre as sombras e o sussurro da noite, nascia um entendimento profundo — tão delicado quanto o primeiro broto da primavera. Um amor que, mesmo sem promessas, já florescia em segredo.
E assim, o caminho adiante parecia menos escuro.
Mais leve.
Mais doce.
Sob a Luz da Verdade
Na manhã seguinte, o sol atravessava suavemente os vitrais da estufa, desenhando cores tênues sobre os lírios e jasmins recém-abertos. Willys entrou em silêncio, como quem busca algo perdido — ou talvez, algo que sempre esteve ali.
Antonieta já o esperava. Estava junto às flores, mas seu olhar parecia pousado num ponto distante. Quando o viu, respirou fundo e estendeu-lhe a carta e o poema — os mesmos que guardara com tanto zelo.
— Você não precisa explicar… — disse, num sussurro terno.
Ele pegou o papel com delicadeza. Seus olhos percorreram as palavras, e então pousaram nos dela.
— Mas eu quero explicar, — disse ele, com a voz firme e doce. — Foram escritos para você. Desde o início. Cada verso, cada linha, nasceu do que você causou em mim… desde o dia em que me olhou diferente no jardim da sua infância.
Antonieta estremeceu levemente. O silêncio entre eles ficou denso, mas não desconfortável — era cheio de significados.
— Você não sabe quantas noites eu passei imaginando que você amava outra pessoa… — confessou ela, com os olhos marejados. — Eu achei que a carta fosse para Mariana… que vocês fossem comprometidos. Me torturei com isso. E depois, quando vi aquela mulher… Débora… tão certa de que te conhecia, eu perdi o chão.
Willys abaixou a cabeça, como se sentisse o peso de todas as dúvidas que ela carregou sozinha. Então se aproximou, bem devagar, e segurou suas mãos.
— Eu nunca amei Mariana como mulher. Ela é parte de mim. E quanto a Débora… há verdades que ainda preciso enfrentar, mas nenhuma delas tem a ver com o que sinto por você. — ele tocou o rosto dela com a ponta dos dedos. — Você é o meu agora. Meu poema. Meu silêncio mais bonito.
Antonieta fechou os olhos, deixando escorrer uma lágrima leve que encontrou repouso na palma da mão dele.
E assim, naquele instante tranquilo, sem promessas exageradas nem palavras rebuscadas, apenas com a verdade e a ternura, os dois se encontraram de novo — pela primeira vez com os corações completamente nus.
A Caminho de Paris
O convite chegou em um envelope aveludado, com o brasão da família de Débora em relevo dourado. Dentro, um cartão perfumado, onde se lia:
“Convido vocês a celebrarem o novo ano em nossa mansão em Paris. Será uma noite inesquecível.
Com afeto,
Débora Sgarden.”
Antonieta leu aquelas palavras com o coração acelerado. A oportunidade perfeita estava ali, diante de seus olhos. Era hora de concluir os mistérios que a cercavam há tanto tempo — e ela não iria sozinha.
Naquela tarde, a estufa estava banhada pelo sol suave de dezembro. Antonieta e Mariana cuidavam das flores, agora cúmplices, trocando risos e confissões leves.
— Paris… mais uma vez… — comentou Mariana, pensativa. — Será estranho retornar depois de tudo o que aconteceu da última vez.
Antonieta suspirou, desviando o olhar para o horizonte. — Mas também pode ser libertador. Não acha?
Mariana assentiu, mas havia sombra em seu olhar.
Mais tarde, no pátio de cascalho que antecedia a garagem, Willys ajustava a bagagem no automóvel com o cuidado de sempre. Quando Antonieta se aproximou, ele a encarou com aquele olhar que só ela agora sabia decifrar — firme por fora, mas repleto de um sentimento contido.
— Estamos prontos? — ele perguntou.
Ela assentiu e, num gesto tímido, tocou o braço dele. — Quase…
Houve um silêncio delicado entre os dois, interrompido apenas pela chegada de Sara com seus apontamentos — como sempre, atenta aos detalhes.
— Lembrem-se, tudo pode acontecer lá. A mansão da Débora tem mais segredos que paredes. — disse ela em tom de aviso, mas com um sorriso maroto.
Durante a viagem, os três compartilharam momentos de silêncio e introspecção. Mariana dormia encostada na janela, Willys mantinha os olhos na estrada, e Antonieta observava o céu mudar de cor, sentindo que, ao fim daquela jornada, seu coração já não seria o mesmo.
Ao se aproximarem de Paris, a cidade começava a se vestir com luzes, enfeites e um frio envolvente. Mas o calor que ardia entre os três passageiros era outro — feito de verdades prestes a emergir, encontros inesperados e um passado que finalmente exigiria ser desvendado.
A Mansão dos Segredos
O portão de ferro forjado se abriu lentamente, revelando a entrada imponente da mansão dos Sgarden adornada com luzes douradas e coroada por pinheiros altos cobertos de neve. Era como entrar em um cartão-postal — belo demais para ser real, e ao mesmo tempo carregado de algo invisível, como um sussurro do destino.
O carro conduzido por Willys avançou pela longa alameda ladeada de esculturas cobertas de gelo. Ao lado dele, Maria Antonieta mantinha o olhar fixo na entrada principal, sentindo o estômago se apertar. No banco de trás, Mariana se ajeitava, observando com curiosidade discreta.
Ao pararem diante da mansão, foram recebidos por criados e por Sarah, que desceu apressada os degraus da entrada, com um sorriso ansioso.
— Vocês chegaram! Mamãe e papai já estão lá dentro. E… Débora está eufórica. Parece outra pessoa.
Willys trocou um olhar breve com Antonieta, e os três desceram do carro. Logo atrás, outros convidados chegavam: a distinta família Sgardem, com suas roupas elegantes e olhares altivos. Entre eles, um jovem charmoso que cumprimentou Antonieta com um sorriso educado e curioso.
Lá dentro, a decoração da mansão era deslumbrante. Lustres de cristal, música suave ao fundo, lareiras acesas e taças reluzentes nas mãos de convidados impecáveis.
A família Skills estava reunida no grande salão. O senhor Eugène Skills, imponente, conduzia as apresentações com sua voz firme. A senhora Olga observava tudo com olhos perspicazes, mesmo envolta em gentilezas.
Débora surgiu no topo da escadaria principal, vestindo um vestido de veludo azul profundo, tão marcante quanto seu sorriso. Ao ver Willys, seus olhos brilharam — por um instante, não como anfitriã, mas como mulher. E Maria Antonieta percebeu.
Stone também estava ali, elegante como sempre, envolvido numa conversa superficial com um dos Sgardem. Sua presença pairava como fumaça: discreta, mas impossível de ignorar.
Sara aproximou-se de Antonieta com um sussurro:
— Esse salão está cheio de memórias e verdades escondidas. Observe bem, amiga. Hoje à noite, máscaras vão cair.
Antonieta apenas assentiu. Sabia que aquela celebração seria o palco de algo muito maior do que um simples Réveillon.
E lá fora, enquanto a neve começava a cair, um relógio antigo soava no alto da torre. Cada badalada parecia anunciar: a hora da verdade está chegando.