Capítulo 06 – O reencontro…
Cena 01 – Uma esperança
O Retorno à Mansão
O carro percorria a estrada sinuosa em direção à Mansão dos Skills, e a paisagem, agora familiar, parecia diferente sob os olhos de Maria Antonieta. A viagem havia mudado algo dentro dela — e, ao mesmo tempo, despertado dúvidas que ela ainda não conseguia responder.
Sentada ao lado da janela, observava os campos dourados que margeavam o caminho. A cada curva, a mansão parecia mais próxima… e com ela, a possibilidade de um reencontro.
Mas reencontro com quem, afinal?
Ela mesma não sabia mais. Desde aquele jantar em Paris, sua mente era um emaranhado de imagens e incertezas. O rapaz que beijou sua tia Débora… os traços parecidos… o olhar familiar… Mas será que era mesmo ele?
“Talvez tenha sido apenas uma alucinação. Talvez eu quisesse tanto vê-lo, que o criei com a força do pensamento…”
Ela se lembrava do toque dos lábios de Willys em sua memória, das palavras trocadas em olhares silenciosos, da ternura com que ele lhe abria a porta do carro… Tudo isso era real. Mas será que ainda era?
Quando a mansão surgiu entre os portões de ferro e os jardins bem cuidados, o coração de Maria Antonieta acelerou.
Ela tentava não demonstrar nada, mas por dentro uma expectativa silenciosa a dominava.
Ao descer do carro, olhou discretamente para todos os lados… o coração apertado.
Nada.
Apenas os empregados habituais… e nenhum sinal dele.
Ela subiu lentamente os degraus de entrada, e antes de entrar, virou-se uma última vez, como se ainda esperasse que, de algum canto do jardim, ele pudesse surgir.
Mas a brisa da tarde trouxe apenas o farfalhar das árvores… e o vazio.
Ao entrar, sentiu uma mistura de alívio e tristeza.
“Talvez realmente tudo não tenha passado de uma confusão… talvez ele nunca mais volte…”
Mas mesmo pensando assim, algo dentro dela ainda queria crer. Não apenas por amor, mas pela estranha sensação de que a história ainda não estava encerrada.
E assim, enquanto os dias se anunciavam novamente na velha mansão, Maria Antonieta decidiu que observaria, escutaria, e esperaria.
Afinal, o silêncio também sabe contar segredos.
Primeiros Dias – Sinais no Silêncio
O retorno à mansão trouxe uma sensação estranha de familiaridade misturada com um leve desconforto. A princípio, tudo estava exatamente como haviam deixado: os corredores imaculados, os jardins floridos, os empregados solícitos… mas havia algo no ar. Um detalhe imperceptível para qualquer um, exceto para ela.
Na primeira manhã, Maria Antonieta desceu mais cedo que de costume. A casa ainda estava silenciosa, e o sol apenas começava a iluminar os vitrais da escadaria principal. Ao passar pelo hall, algo chamou sua atenção: a porta do antigo alojamento dos empregados estava entreaberta.
Ela hesitou, mas aproximou-se. Por curiosidade, talvez. Ou por intuição.
Empurrou a porta devagar. Nada. O quarto estava vazio, arrumado… mas o abajur sobre o criado-mudo estava ligado, como se alguém tivesse saído apressadamente e esquecido de apagá-lo.
“Estranho…” — pensou — “Esse quarto deveria estar fechado desde que Willys partiu…”
Mais tarde, naquela mesma manhã, ouviu um comentário solto de Dona Olga na cozinha:
— “O rapaz que veio consertar o aquecedor chegou bem cedo… até pensei que fosse o Willys, acredita? Mesma altura… mesmo andar firme… mas sumiu sem eu ver quando saiu.”
Maria Antonieta permaneceu quieta. Aquilo mexeu com ela mais do que deveria.
Será que alguém estava vindo à mansão sem ser notado? Ou será que… ele já estava ali?
Na noite seguinte, não conseguiu dormir. Ficou observando pela janela do quarto o pátio de trás da mansão. Quando o relógio marcava pouco depois da meia-noite, um vulto cruzou discretamente o jardim lateral, na direção da antiga garagem.
Ela prendeu a respiração.
Não conseguiu ver o rosto, nem definir quem era. Mas o coração acelerou.
“Estou ficando obcecada?” — perguntou a si mesma — “Ou algo realmente está acontecendo?”
Na manhã seguinte, perguntou casualmente à governanta se haviam contratado alguém novo para ajudar na manutenção.
— “Não, senhorita. Ninguém. Só o jardineiro mesmo… e o rapaz do portão, que é o mesmo de sempre.”
Maria Antonieta sentiu um frio subir pela espinha.
Aquilo era mais do que saudade. Era instinto.
E então, decidiu: não diria nada a ninguém — nem mesmo a Sara — até ter uma pista mais concreta.
Mas uma coisa era certa: algo estava acontecendo. E ela estava determinada a descobrir o que era.
O Poema Esquecido
Na tarde seguinte, após um leve almoço servido no jardim, Maria Antonieta resolveu caminhar pela estufa de flores, um de seus lugares preferidos na mansão. Desde pequena, aquele lugar a acalmava — o perfume das flores, o som suave das folhas ao vento, e o silêncio acolhedor criavam um refúgio perfeito para seus pensamentos inquietos.
Enquanto percorria o pequeno corredor florido entre as roseiras, notou algo caído entre dois vasos de cerâmica: uma folha dobrada com esmero, presa sob uma pequena pedra, como se tivesse sido escondida… ou deixada ali propositalmente.
Curiosa, ajoelhou-se e pegou o papel. Era uma folha amarelada, com letras bem desenhadas, e uma caligrafia que lhe pareceu familiar. Ao desdobrá-la, percebeu que não era uma simples anotação. Era um poema. Curto, sincero, repleto de sentimento. Um tipo de confissão velada.
“Eu vejo o céu nos teus olhos,
Mas finjo não notar.
Falo da chuva, do tempo, do mundo,
Mas o que eu queria mesmo era ficar.
Há um nome que me prende à esperança,
Mas não o ouso escrever,
Porque talvez seja só ilusão
Amar sem merecer.”
Maria Antonieta ficou paralisada. O papel tremia em suas mãos. O estilo era inconfundível.
Willys. Ela tinha certeza. Era o tipo de simplicidade profunda que ele costumava demonstrar em pequenas palavras e olhares calados.
Mas o nome… o nome não estava lá.
Ela sentiu o coração apertar. Aquilo podia ser uma declaração para ela… ou para qualquer outra pessoa. E o que mais a perturbava: o poema poderia não ser recente. Poderia ter sido escrito há meses. Ou… quem sabe… dias?
Dobrou o papel com o mesmo cuidado com que o encontrara. Guardou-o em seu diário, como quem guarda um fragmento de um sonho que talvez jamais se concretize.
Naquela noite, ao deitar-se, recitou mentalmente os versos, tentando decifrar não só o sentimento nas palavras, mas também a quem elas poderiam se dirigir.
E mais uma dúvida passou a acompanhá-la:
Se foi ele quem escreveu… então ele esteve aqui. De novo.
A Revelação de Sara
Dois dias haviam se passado desde o reencontro com a mansão. O clima era de leve readaptação, risos e lembranças da temporada em Paris. Mas por trás dos sorrisos cordiais, o coração de Maria Antonieta seguia inquieto, ainda carregando o peso do poema encontrado na estufa.
Na tarde de um domingo silencioso, Sara se aproximou com aquele jeito cuidadoso que só ela sabia ter. As duas estavam na biblioteca, sob a luz quente do entardecer, enquanto fingiam escolher livros antigos para revisitar.
— Toni… — disse Sara suavemente, sem tirar os olhos de um exemplar de capa vermelha. — Sabe aquela conversa que eu disse que a gente precisava ter? Lá em Paris?
Maria Antonieta pousou o livro que segurava sobre a mesa, sentindo um leve frio no estômago.
— Claro que lembro… — respondeu com um sussurro. — Você parecia preocupada… O que houve?
Sara hesitou por um segundo. Olhou ao redor. A biblioteca estava vazia, mas ainda assim baixou a voz.
— Eu pensei em não te contar… porque, sinceramente, eu achei que poderia te magoar. Mas agora que estamos aqui, e que você parece… esperançosa, eu me sentiria pior em não ser sincera com você.
Antonieta franziu o cenho. Uma pontada de medo a atravessou.
— Fala de uma vez, Sara…
Sara suspirou e então disse:
— Naquela tarde em Paris, quando você achava que eu tinha saído… na verdade, eu fiquei no quarto. E por acaso, da janela, eu vi tia Débora… com um homem.
— Que tipo de homem? — Maria perguntou quase sem querer, como se já soubesse a resposta.
— Um homem jovem. Bonito. Elegante. Eles se encontraram discretamente… e ele a beijou. Com… intimidade. Não foi um beijo de conhecidos, nem de amigos. Foi um beijo… como de amantes.
Antonieta engoliu seco.
— E você sabe quem era?
Sara hesitou. Seus olhos se fixaram nos de Maria por um instante.
— Eu sei. Era Willys.
Aquelas palavras soaram como um tapa. Um estrondo dentro da alma. Maria Antonieta levou instintivamente a mão ao peito, como se tentasse conter a dor que explodiu de forma silenciosa.
— Tem certeza…? — murmurou, quase sem ar.
— Absoluta. Eu vi o rosto dele. E não foi por acaso. Eles pareciam… combinados. Como se aquilo já tivesse acontecido outras vezes. Por isso eu não soube como te contar. Eu sei o quanto ele… significou pra você.
Maria desviou o olhar, sem conseguir dizer nada. Ficou ali, estática, ouvindo as batidas do próprio coração como um eco distante, e lembrando do poema…
“Há um nome que me prende à esperança…”
Mas agora, tudo aquilo parecia desmoronar.
Ou talvez… se complicar ainda mais.
Reflexão de Maria Antonieta
Naquela noite, Maria Antonieta não jantou com a família. Disse que estava indisposta, o que não era mentira. Mas o que ela sentia era mais do que uma dor de estômago. Era um gosto amargo, vindo de dentro — uma mistura de mágoa, desilusão e vergonha.
Sentada no peitoril da janela de seu quarto, com as luzes apagadas e o céu começando a se encher de estrelas, ela pensava. Tentava montar as peças de um quebra-cabeça que, agora, começava a fazer mais sentido do que gostaria.
“Paris… Tudo começou ali.”
Lembrou-se da noite do jantar, da penumbra, dos três beijos no rosto da tia… da sensação de familiaridade que invadiu seu peito como um relâmpago.
“E se não fosse uma ilusão? E se não fosse o coração criando fantasmas? E se… fosse mesmo ele?”
E então tudo veio como um turbilhão. A frustração de não encontrá-lo no lugarejo. A conversa da tia com um homem misterioso. Os perdidos de Débora, os bilhetes, os beijos escondidos em carros durante leilões, e agora, a confirmação visual de Sara…
“Por isso ele nunca mais apareceu. Por isso não respondeu, não procurou, não se explicou…”
Porque talvez nunca houve nada a ser explicado. Talvez ela não fosse mais do que uma doce lembrança para ele, um episódio breve, apagado com um novo beijo, uma nova aventura.
“E eu… criei histórias. Acreditei em poemas. Alimentei uma ilusão tão delicada quanto frágil.”
Lágrimas silenciosas escorreram sem que ela as percebesse. Mas, diferente de outras vezes, ela não se levantou para enxugá-las. Deixou que viessem. Era preciso esvaziar para respirar novamente.
No fundo, ela sabia… com Willys ou sem Willys, Débora tinha seus segredos, seus encantos perigosos e seus jogos bem ensaiados. E ela, Maria Antonieta, era apenas uma peça que acreditou fazer parte do tabuleiro.
Agora, tudo que restava era a verdade que ela mesma precisaria encontrar. Mesmo que doesse. Mesmo que mudasse tudo.
Ainda naquela noite…
O tempo parecia ter parado no quarto de Maria Antonieta. As sombras da noite desenhavam formas suaves nas cortinas, e o silêncio da mansão, quebrado apenas pelo som distante do vento lá fora, parecia conversar com seus pensamentos.
Ela pegou o pequeno bilhete que havia encontrado mais cedo — o poema inacabado. Um misto de esperança e tristeza pulsava naquele pedaço de papel. Palavras doces, um amor calado, mas sem nome… sem rosto… sem destino.
“Se foi para mim, por que não me disse? Se não foi… por que me permitiu acreditar?”
Ela dobrou cuidadosamente o papel, como se quisesse proteger aquele último resquício de sonho. Mas não o guardou com o mesmo carinho de antes. Desta vez, colocou dentro de um livro, fechou e deixou sobre a escrivaninha, como se dissesse a si mesma:
— Chega de procurar respostas onde só há silêncio.
Na manhã seguinte, Antonieta desceu para o café com outra postura. Seu olhar ainda era doce, mas havia ali uma nova firmeza. Os pais a estranharam, mas não comentaram. Sara, atenta, percebeu a mudança… mas ficou calada. Sabia que aquela menina sonhadora agora carregava algo que apenas o tempo poderia curar.
Durante o café, ouviram o Senhor Skills comentar sobre uma possível festa de boas-vindas oferecida por amigos da família, o que animou a todos — menos Antonieta. Ela apenas sorriu de leve e disse:
— Festas são boas para esquecer certas coisas… ou fingir que não existiram.
Sara olhou para ela com pesar. Queria tanto contar o que sabia… dizer que havia uma explicação, que talvez nem tudo fosse como parecia. Mas o medo de magoá-la ainda era maior.
Mais tarde, quando estavam sozinhas no jardim, Sara tentou puxar assunto:
— Você está mais quieta do que o normal…
— Acho que estou aprendendo a ouvir o silêncio, prima. Ele conta verdades que as palavras escondem.
Sara quis abraçá-la, mas respeitou o espaço. Sabia que algo dentro de Maria Antonieta havia mudado. E que, agora, ela estava mais perto da verdade… mesmo que ainda não soubesse disso.
A Festa e a Revelação Silenciosa
A mansão dos Skills, elegantemente decorada, ganhava vida novamente com o brilho das luzes e o som suave da música ao piano. A festa de boas-vindas estava para começar, e os convidados, em trajes finos, desfilavam pelo salão como personagens de uma história refinada.
Maria Antonieta, em um vestido de cetim azul claro, sorria com elegância, mas por dentro carregava um mundo de sentimentos não resolvidos. Sara a acompanhava, firme, atenta a cada detalhe — o ambiente, os rostos, os cochichos.
Tudo parecia transcorrer normalmente… até que a grande porta principal se abriu.
O Senhor Skills, com um sorriso orgulhoso, adentrou o salão ao lado de ninguém menos que Willys.
Maria Antonieta sentiu o coração bater como nunca antes. Seus olhos congelaram por um segundo, e a respiração falhou.
Mas o choque maior veio logo depois.
Willys não estava sozinho.
A seu lado, uma belíssima jovem, de presença envolvente e elegância natural, trajando um vestido escarlate de caimento impecável, parecia flutuar ao seu lado. Seus cabelos escuros emolduravam um rosto clássico, e seu sorriso era gentil, mas misterioso. Todos os olhares se voltaram para ela — inclusive os de Antonieta e Sara.
O silêncio entre as duas primas foi tão eloquente quanto qualquer grito.
— Ela… está com ele… — murmurou Sara, com os olhos arregalados.
— E ele… agindo como se nada... nunca tivesse acontecido… — completou Antonieta, quase sem voz.
O Senhor Skills os apresentou com orgulho. Disse apenas:
— Este é meu querido amigo Willys. E esta encantadora jovem é Mariana, convidada especial desta noite.
Ninguém ousou perguntar mais. Mas o ar estava carregado de especulações. Todos pensavam o mesmo — “Namorada!”
Cena: A Festa Segue… e o Silêncio Grita
Enquanto os convidados brindavam e o salão se enchia de risos e cumprimentos, Maria Antonieta observava de longe. Seus olhos estavam fixos em Willys… ou seria Stone? Ou seria apenas uma ilusão?
Ele parecia natural, seguro, como se nada houvesse sido interrompido entre eles. Mas não olhava para ela. E isso doía.
Ao seu lado, Mariana esbanjava elegância e segurança. Não era arrogante, mas havia nela uma tranquilidade que fazia com que todos presumissem sua intimidade com Willys. Ela sorria, conversava com os convidados e, vez por outra, tocava levemente o braço dele — gestos que, aos olhos de Antonieta, pareciam confirmações cruéis.
— Ela é linda… — disse Antonieta num sussurro seco, mais para si mesma do que para Sara, que estava ao seu lado.
Sara respirou fundo. Ela conhecia bem aquele olhar — o da alma despedaçada tentando manter a pose. Mas não tinha palavras que pudessem consolar naquele momento.
— Talvez ele tenha seguido em frente… — completou Antonieta, forçando um sorriso e abaixando os olhos.
Sara, com o coração apertado, preferiu o silêncio.
Mariana e Willys circularam pelo salão, cumprimentando os anfitriões, e por um instante — apenas um instante — Willys olhou em direção a Antonieta. Foi rápido, tão rápido que ela mesma duvidou se aquilo havia realmente acontecido.
Mas bastou para reacender a dor, a dúvida, o mistério.
E quando Mariana segurou o braço dele para sussurrar algo ao ouvido, Antonieta se retirou discretamente para o jardim. Lá, sozinha sob o céu estrelado, olhou para cima tentando conter as lágrimas.
— Por que voltou…? — sussurrou. — E por que assim…?
A noite ainda teria outras revelações, mas por ora, a jovem Maria Antonieta apenas enfrentava o peso de um coração dividido entre a lembrança e a dor de uma possível verdade.
A Festa (Continuação)
O salão da mansão Skills estava iluminado com luzes douradas, reluzindo nos cristais e refletindo nas taças de champanhe que tilintavam ao som do piano suave ao fundo. Os convidados conversavam animadamente, e entre eles, o Senhor Skills fazia questão de apresentar Willys — ou quem todos acreditavam ser ele — com grande entusiasmo, como um exemplo de lealdade, trabalho e competência.
Maria Antonieta, vestida com elegância e discreta sofisticação, tentava esconder sua inquietação atrás de um sorriso cortês. Seus olhos, no entanto, estavam fixos naquela dupla improvável: Willys e Mariana.
A jovem era um espetáculo à parte — cabelos castanho-claros em ondas suaves, um vestido azul petróleo que realçava sua silhueta e um sorriso gentil, porém seguro de si. Mariana conversava com graça e desenvoltura, demonstrando intimidade com Willys… ou seria apenas afeição fraternal?
Sara, atenta como sempre, notava tudo. Ela evitava qualquer comentário, mas por dentro sentia o coração da prima se partir em mil interrogações.
Antonieta então pede licença discretamente e vai até o jardim. Lá, sob a luz prateada da lua, tenta conter as lágrimas que insistem em vir. Sua mente é um redemoinho de imagens: o bilhete sem nome, a cena com a tia Débora, os silêncios, os desaparecimentos… e agora aquilo.
Nesse momento, ela ouve passos se aproximando. Vira-se devagar e se depara com Mariana.
— Que noite linda, não? — diz Mariana, com voz doce.
— Sim… está realmente encantadora — responde Antonieta, tentando se recompor.
Mariana sorri com ternura e, por um instante, parece hesitar. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um chamado do salão interrompe o momento: o brinde será feito.
As duas voltam, lado a lado… cada uma com segredos guardados e um mundo de suposições no olhar.
Encerramento da Festa
A música suavemente foi perdendo intensidade, o piano agora tocava apenas melodias lentas, quase como um sussurro. As taças vazias começavam a ser recolhidas pelos serviçais da casa e os convidados, um a um, começavam a se despedir, ainda encantados pela noite memorável.
O Senhor Skills estava em êxtase. Conversava animadamente com um casal de velhos amigos, agradecendo a presença de todos e exaltando os momentos de reencontros e novos laços criados naquela noite.
No canto da sala, Willys e Mariana conversavam discretamente com algumas senhoras, todos sorrindo, todos à vontade… como se nada houvesse a esconder.
Maria Antonieta, por sua vez, permanecia próxima de uma das janelas, observando os últimos convidados. Seus olhos vez ou outra se fixavam em Willys, mas ela desviava rapidamente, não queria demonstrar o que sentia, tampouco dar vazão ao turbilhão de pensamentos que a consumia por dentro. A presença de Mariana ao lado dele era um punhal silencioso.
Sara, sempre atenta, observava a prima com carinho, mas também com um ar de tristeza contida. Ela sabia que havia coisas demais não ditas naquela sala.
Quando Mariana e Willys se aproximaram para se despedir do Senhor Skills, Débora surgiu de repente, como quem apenas observava. Os olhos dela passaram rapidamente por Mariana e, por um segundo, pareciam querer decifrar algo — mas sua expressão voltou ao controle tão rápido quanto surgira.
— Foi uma honra estar aqui esta noite, senhor Skills. — disse Willys, com um leve gesto de reverência.
— A honra foi toda nossa, rapaz! — respondeu o anfitrião, apertando-lhe a mão com firmeza. — Mariana, querida, volte sempre que quiser. É encantadora.
Ela agradeceu com gentileza e trocou cumprimentos suaves com os demais. Quando seus olhos cruzaram os de Antonieta, houve uma hesitação — um leve inclinar de cabeça, quase como um reconhecimento silencioso… e então, ela se foi.
Antonieta se manteve firme. Apenas quando a porta se fechou, e o carro com Willys e Mariana desapareceu portão afora, é que ela deixou escapar um longo suspiro. Como se estivesse soltando junto um sonho que se esvaía.
Sara se aproximou e segurou sua mão. Nenhuma palavra foi dita. Era o silêncio das coisas que doem, mas que precisam ser engolidas com elegância.
E assim, a festa terminou.
Um capítulo se fechava… mas o livro ainda estava longe de acabar.