Capítulo 05 – Ecos do Silêncio
Cena – Ecos do Silencio
Os dias em Paris estavam chegando ao fim. As malas começavam a ser preparadas, os últimos compromissos sociais se encerravam, e os corações das primas se enchiam de expectativas com o retorno à rotina na mansão dos Skills.
Maria Antonieta, embora ansiosa por rever o lar e as lembranças que ali ficaram, carregava consigo algo mais profundo — um misto de esperança e inquietude.
Havia em seu peito uma alegria contida… e uma preocupação constante que não a deixava em paz.
Ao caminhar pelos corredores da casa, a cada despedida dita em francês, a cada olhar lançado à cidade pela janela da carruagem, ela se perguntava:
**“”Será que voltarei a vê-lo? Se é que o vi de verdade…”
Enquanto ajeitava a última blusa na mala, Maria Antonieta parou. Os dedos repousaram sobre o tecido como se o tempo também tivesse pausado ali.
Na sua mente, uma cena se repetia — quase como um sussurro:
Aquela noite do jantar… os três beijinhos no rosto de sua tia…
O rosto dele, voltando-se na direção dela, mesmo na penumbra…
“Willys?” — sussurrou, sem querer, em meio ao silêncio do quarto.
Mas então veio o estalo…
E se fosse mesmo Willys?
E se, ao contrário do que imaginou, ele não estivesse apenas de passagem naquela noite?
E se aquele bilhete, entregue por sua tia no leilão, fosse para ele?
O que mais a confundia era algo ainda mais inquietante…
Por que ela mesma havia dito o nome Stone naquele dia?
Era como se algo dentro dela já soubesse.
Como se sua intuição tivesse revelado uma peça oculta antes mesmo de qualquer evidência concreta.
O que havia em torno de Willys e de Stone?
Seriam… o mesmo?
Seriam… dois?
Essa ideia parecia absurda demais.
E justamente por isso, fazia sentido dentro do enigma.
Na cama ao lado, Sara adormecia tranquilamente, alheia às ondas de pensamento que agitavam a prima.
Mas Antonieta sabia: o tempo em Paris podia estar terminando…
Mas o mistério, esse, estava apenas no início.
Apesar de todas as dúvidas que martelavam sua mente — as cenas mal explicadas, os nomes trocados, os bilhetes misteriosos — havia algo que, para Maria Antonieta, começava a se tornar claro como o dia…
Com Willys ou sem Willys, sua tia Débora não era quem todos pensavam que ela fosse.
Aquela imagem de mulher doce, elegante, discreta e dedicada à família agora parecia apenas uma máscara — lindamente bem feita, é verdade — mas uma máscara. E por trás dela, uma mulher que se movia com liberdade demais para quem sempre pregou bons costumes.
E se houvesse mesmo algo com Willys… ele seria apenas mais um.
Mais um dos rostos enigmáticos… mais um elo entre ela e uma verdade escondida.
Antonieta sentiu um frio interno — uma mistura de decepção, medo e curiosidade.
Ela já não sabia ao certo o que a movia.
Mas uma certeza começava a tomar forma: ela precisava saber tudo.
Por outro lado, uma certeza igualmente forte invadia seus pensamentos…
O retorno estava próximo.
E no fundo de sua alma, Maria Antonieta sabia: se ele ainda existia em sua vida, se havia algum elo invisível entre os dois — ele daria as caras.
A casa, os corredores, os jardins…
Tudo em sua imaginação parecia esperar pelo reencontro.
Será que ele apareceria?
Seria Willys… ou Stone?
Seria aquele homem do jantar?
Ou seria apenas o fim de uma ilusão?
Ela não tinha respostas.
Mas tinha uma certeza visceral:
A volta revelaria mais do que ela poderia imaginar.
Uma tarde de despedidas discretas
O sol parisiense atravessava as janelas amplas da casa da família Sgarden quando o Sr. Sgarden anunciou, com sua habitual formalidade, que levaria os Skills pessoalmente para a compra das passagens de volta, devido a uma falha no sistema online da companhia aérea.
Débora, com um sorriso encantador e um olhar que escondia mil intenções, lamentou:
— Infelizmente, terei que me ausentar… Uma reunião previamente marcada me impede de acompanhá-los. Questões do comitê de eventos — disse, ajeitando os brincos com uma calma calculada.
Sara, que preparava-se para sair, esfregou as têmporas e murmurou algo sobre uma forte dor de cabeça.
Antonieta se ofereceu para ficar, mas Sara recusou com leveza:
— Não se preocupem, só preciso descansar um pouco. Vou ficar quietinha no quarto.
O que ninguém sabia… era que Débora não ia a reunião alguma.
Ela tinha outro destino em mente: um breve e certeiro encontro com Stone — um encontro que ela mesma havia provocado com aquele pequeno bilhete enigmático.
E o que Débora também não sabia…
Era que Sara, ao deitar-se no quarto, levantou-se minutos depois, impulsionada por uma estranha inquietação.
Encostou-se à janela com vista para a rua e observou a movimentação com olhos atentos…
E ali, por um breve segundo que jamais esqueceria, ela viu.
Débora.
Vestido elegante. Passos decididos.
E um carro preto estacionado na esquina.
A porta se abriu…
E dele desceu um homem de terno escuro, com aquele mesmo ar altivo, o andar firme, o rosto que ela conhecia como poucos.
Era Willys.
Ou pelo menos… era quem ela acreditava ser Willys. Não havia como se enganar.
Ele sorriu. Débora sorriu mais ainda.
Se abraçaram.
E ela o beijou.
Não como uma amiga. Nem como uma anfitriã.
Beijou-o com uma intimidade indiscutível. O beijo oi breve, mas verdadeiro.
Como uma mulher que sabia exatamente o que fazia.
Sara ficou paralisada.
Logo em seguida, ele entrou no carro e partiu, desaparecendo no fim da rua. Débora olhou o relógio e voltou pela mesma porta, com a elegância habitual, como se nada tivesse acontecido.
Sara sentou-se na beira da cama, em choque. Sua cabeça girava em mil direções, mas uma certeza dominava seu coração:
Willys estava ali. Com Débora. E não era imaginação.
Queria correr e contar tudo para Antonieta, mas algo a segurava… Como contar? Como dizer que o homem que a prima amava estava envolvido com sua tia?
E se ela estivesse errada? E se houvesse algo que ela não sabia?
O silêncio a invadiu. Naquele momento, Sara fez uma escolha: guardar o segredo, pelo menos por agora. Para proteger Antonieta, para entender melhor… ou talvez para não destruir algo que nem sabia como consertar depois.
A verdade era cruel demais.
Poderia magoar Antonieta.
E talvez… destruir toda a harmonia da família.
Com os olhos marejados e o coração apertado, Sara fechou a cortina lentamente, como quem selava um segredo…
Um segredo que carregaria sozinha.
Cena – O Peso do Silêncio
Sara não dormiu naquela noite.
Virava-se na cama, olhando para o teto como se ele pudesse responder todas as perguntas que inundavam sua mente. O rosto de Willys — ou Stone, como Débora o havia chamado — não saía de sua cabeça. O beijo. A cumplicidade. A certeza de que aquele homem não era um estranho.
Na manhã seguinte, Antonieta apareceu com seu sorriso doce, animada com a proximidade da volta. Mas Sara, pálida e distraída, limitava-se a murmurar respostas curtas, escondendo atrás de um falso cansaço a tempestade que se formava por dentro.
— Está tudo bem mesmo, Sara? — perguntou Antonieta, com os olhos atentos.
— Claro… só não dormi muito bem — respondeu, desviando o olhar.
A culpa começava a se instalar. Cada vez que olhava nos olhos da prima, o segredo pesava mais. Mas como poderia contar? Se falasse agora, arriscaria implodir os últimos dias de viagem, o reencontro com a rotina, a própria imagem da família…
Mais tarde, enquanto passeavam pelos jardins de Luxemburgo, Antonieta falava sobre o retorno, os planos de retomar os estudos, e até da esperança de ver Willys novamente — quem sabe ele tivesse voltado à vila?
Sara apenas assentia, enquanto por dentro queria gritar: Ele não está na vila… ele está aqui. Nos braços da sua tia…
Naquela noite, antes de dormir, Sara escreveu num pequeno caderno:
— “Hoje vi o rosto da verdade, e ela sorriu como quem guarda um pacto silencioso. Não sei se o que vi destruirá o coração da minha prima ou apenas o protegerá. Mas por enquanto, preciso calar. Preciso entender mais.”
Era o início de seu diário secreto, onde começaria a registrar tudo. Os detalhes. Os gestos. Os encontros ocultos. Uma espécie de investigação silenciosa, onde ela buscaria compreender o verdadeiro papel de Willys… ou Stone… e, sobretudo, quem era Débora por trás de sua fachada luminosa.
O Retorno
O sol começava a nascer atrás das janelas do apartamento parisiense quando os Skills, acompanhados de Sara e Olivia, iniciavam os preparativos para voltar para casa. Malas alinhadas, despedidas trocadas, e uma pontinha de saudade misturada à ansiedade — a viagem deixava memórias doces, mas também sombras.
Maria Antonieta estava visivelmente emocionada. Embora feliz por retornar, seu coração ainda carregava o peso das dúvidas. Nada parecia resolvido. O tempo em Paris, que deveria ter sido apenas descanso e encanto, deixara marcas profundas.
— É estranho… parece que a viagem passou num piscar de olhos — comentou ela, olhando pela janela da van que os levava ao aeroporto.
— Mas ao mesmo tempo parece que vivemos anos aqui dentro — completou Sara, com um sorriso discreto, tentando disfarçar a tensão que a consumia.
Olivia, alheia às inquietações das primas, falava sobre os novos cursos que pretendia fazer no semestre seguinte, enquanto o Senhor Sgarden, sempre formal, organizava os documentos e conversava com o pai de Antonieta sobre negócios.
Dona Débora, por sua vez, parecia leve, radiante… como se a viagem tivesse lhe renovado as energias. Sua expressão serena não denunciava os encontros ocultos, tampouco a intensidade com que se despedira de Stone naquela mesma semana. Ela se portava como uma dama impecável — e talvez isso fosse o que mais inquietava Sara.
No Aeroporto, enquanto as bagagens eram despachadas, Sara puxou Antonieta para um canto.
— Quando estivermos de volta… eu quero te contar algumas coisas — disse, hesitante.
— O que foi? É sobre Paris? — perguntou Antonieta, surpresa.
— É sobre… tudo. Mas só quando estivermos em casa. Lá eu consigo pensar melhor.
Antonieta não insistiu. Apenas assentiu com um leve aceno, embora no fundo soubesse que havia algo importante por trás daquelas palavras.
O embarque foi tranquilo. O avião decolou cortando as nuvens, levando consigo os suspiros e os segredos de Paris.
Mas a cabeça de Antonieta não parava de girar…
Será que ele estará lá? Será que voltará para a vila?
E se não aparecer nunca mais?
E se tudo aquilo com a tia Débora não passar de uma confusão?
Do outro lado, Sara fechava os olhos tentando esquecer… mas no fundo, sabia que, ao retornarem, a verdade — ou parte dela — poderia finalmente começar a se revelar.